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Acesso em 30/10/2024 às 01h31.

Do James Webb às mudanças climáticas: engenheira da Nasa aquece Gramado

Após uma noite de chuva, característica das mudanças de tempo da Serra Gaúcha, o Serra Park, em Gramado, recebeu todo o calor humano de uma engenheira mecânica da Nasa. Com muito carisma e vídeos que despertaram a atenção do público que lotou o auditório Farroupilha, a engenheira aeroespacial Aprille Joy Ericsson conduziu a primeira apresentação da sexta-feira (11/8), marcando a programação de encerramento da 78ª Soea.

16 de agosto de 2023, às 9h17 - Tempo de leitura aproximado: 9 minutos

Após uma noite de chuva, característica das mudanças de tempo da Serra Gaúcha, o Serra Park, em Gramado, recebeu todo o calor humano de uma engenheira mecânica da Nasa. Com muito carisma e vídeos que despertaram a atenção do público que lotou o auditório Farroupilha, a engenheira aeroespacial Aprille Joy Ericsson conduziu a primeira apresentação da sexta-feira (11/8), marcando a programação de encerramento da 78ª Soea. Muito além dos foguetes, ela conduziu o público pelos bastidores dos principais equipamentos que fazem a história da agência espacial norte-americana, motivando também os mais jovens, em pleno Dia do Estudante.

Primeira afro-americana a obter o título de PHD em Engenharia Mecânica pela Nasa, entre outras formações e pioneirismos, ela compartilhou sua experiência, repetindo, pela primeira vez no país, uma rotina que tem vivenciado em outras partes do mundo. E foi também sobre esse nosso planeta e outros astros do universo que a engenheira tratou em sua apresentação, não se furtando a responder o questionamento que deve ser frequente a ela e seus colegas. “Acredito que não estamos sozinhos”, comentou, em relação à possibilidade de vida em outros planetas.

Com muitas referências à importância da engenharia, de sua trajetória pessoal e ainda da disseminação de conhecimentos e também de eventos como a Soea, Aprille conquistou o público de todo o país que hoje se despede da Soea. “Eventos como esses são importantes para os engenheiros para nos juntarmos para compartilhar ideias”, disse, antes de apresentar sua trajetória. “Acredito que meus ancestrais me deram tanto durante minha vida, me deram perseverança e força. Sou forte e resiliente em decorrência dos meus ancestrais”, comentou.

“Gostaria de passar uma mensagem de quão importante é essa atividade para convidar a juventude. Sempre trazemos a juventude e eles aprendem muito. Empoderamos a juventude. Sou parte da Sociedade de Engenheiros Negros dos Estados Unidos que tem 15 mil engenheiros negros na sua convenção. Temos o capítulo Júnior e o capítulo Profissionais. Nós engenheiros ajudamos a ser os mentores. Convido a vocês a envolverem os jovens e as crianças nas suas atividades”, conclamou.

A paixão pela ficção-científica, da Star Trek a outras sagas cinematográficas, foi citada entre suas referências. “Mas rapidamente aprendi que para fazer aquelas coisas, precisava estudar muito”, disse, apresentando alguns de seus mestres. “Muitas pessoas me perguntam o que faço na Nasa. Alguns acham que estou na Guerra nas Estrelas. Outros, apenas queimando dinheiro. Na verdade, passo muito tempo em reuniões, tentando me comunicar bem e ser uma boa líder”, afirmou.

Em seguida, exibiu um vídeo sobre suas atividades na Agência Espacial Norte-Americana.  “Sou uma mestre de tarefas”. Nascida no Brooklyn, em Nova York, ela participava de equipes de esportes. Formada na Howard Universidade no ano do primeiro de desastre de um ônibus espacial, atundo hoje em projetos de financiamento junto ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), a engenheira aeroespacial já foi considerada uma das engenheiras mais importantes do mundo.

Com a experiência de haver trabalhado em todas as fases de uma missão espacial, Aprille apresentou algumas dessas etapas de sua atuação profissional, em torno de ferramentas como mapas artificiais, ou o telescópio James Webb , que levou 28 anos para ser construído e possibilita compreender a origem e a expansão do universo, desde seu lançamento em 25 de dezembro de 2021.

Aprille participou também da equipe para a recente missão da Nasa a Marte. “Quando fiz a transição para a pesquisa colegiada, queria manter o aspecto humanista da missão espacial. Essa oportunidade de aprendizado em diversos programas é muito especial. Alcancei muita coisa assim. Consegui ser líder em diversas oportunidades. Sinto que meu legado é ser professora, do ensino médio e ainda na universidade. Estou em pequenos conselhos de colégios, associação de pais e professores, participo de tudo”, disse, informando que também é atleta, jogadora de futebol americano.

“Sabemos que nosso local na sociedade, o propósito do engenheiro, é muito grande”, disse, apresentando um histórico das atividades da Nasa. “Quando iniciamos, com John Kennedy, enfrentamos os riscos. Se quiser fazer inovação, você tem que estar disposto a falhar e a assumir riscos. Sabemos que pode ser muito perigoso, mas é importante como você responde às falhas e torna tudo mais seguro”, disse, apresentando os centros de atividades da Nasa. “Temos um programa de liderança e instrumentação espacial”, informou, lembrando suas primeiras criações mecânicas. “Hoje eu permito que os cientistas disponham de diversos instrumentos, atuando com Física, Astrofísica e outras disciplinas”.

Em seguida, Aprille aprofundou as informações sobre as pesquisas desenvolvidas pela Nasa, muito além dos foguetes, em torno de veículos não tripulados, satélites, balões meteorológicos. “Trabalhei em tantas áreas e diferentes plataformas. Algo que nem sempre menciono são as pesquisas em pequenos e médios negócios que podem resolver lacunas tecnológicas que temos”, comentou.
Clima
Entre essas pesquisas, mencionou também a importância das investigações desenvolvidas pela Agência Espacial Norte-Americana sobre o aquecimento global e a mudança climática. “Trabalhei nas missões de instrumentação. E tive interesse de trabalhar na pesquisa do ciclo de carbono. Esse é meu último trabalho, o ICE Sat-2, uma missão de 1 bilhão de dólares, em que eu tinha 500 milhões de dólares de instrumentação”. Aprille conta que quando viu o homem pisar na lua, desejou estudar e talvez até viajar para o nosso satélite natural. “Eles não tinham os mapas que tínhamos. Agora, temos mapas que têm uma precisão de três centímetros com a técnica a laser”, disse.

Ao mencionar que o ICE Sat-2 é utilizado para medir as mudanças climáticas, novamente fez referência à juventude. “O equipamento mede alterações no gelo, na crio-esfera. Você pode estimar a mudança de massas, pela altura das montanhas. Os alunos não viram o impacto do aquecimento global. Fico triste pela próxima geração, que herdou esse problema. Temos que dar as ferramentas para eles resolverem esses impactos. Quando o nível do mar sobe, muda a distribuição de massa do nosso planeta, o que pode alterar os polos. Temos que fazer algo para modificar isso”, pontuou.

James Webb
Ao mencionar a grandeza do telescópio James Webb, Aprille destacou também os custos mais modestos utilizados em projetos desenvolvidos pela Nasa em torno de miniaturizações de naves espaciais e outros artifícios tecnológicos. “Quanto mais pesa, mais custa para lançar ao espaço. Trabalhamos com miniaturização de naves espaciais e outras instrumentações”, disse, apresentando alguns sistemas que permitem fazer ciência de maneira mais barata. “O que fazemos atualmente são estudos de aviação, satélites. Mas vocês sabiam que estamos construindo um drone nuclear para mandar para Marte?”, questionou, apresentando o ruído do helicóptero que orbitou pela superfície de Marte e que está atualmente fazendo seu trajeto de volta à Terra. “Trabalho com pessoas muito inteligentes. Nunca parem de fazer perguntas, os engenheiros sempre têm que fazer perguntas”.

Ao navegar por uma linha do tempo dos telescópios norte-americanos, a engenheira mecânica destacou que todas as ferramentas são previamente testadas exaustivamente, antes de alcançarem o espaço. Apresentando um vídeo que mostra desde o recolhimento dos minerais usados, Aprille mostrou a criação dos espelhos do telescópio, o isolamento e seu acondicionamento, sua integração eletrônica e física ao ônibus espacial. Apresentou ainda os testes que incluem criogenia e outros aspectos. “Uma das coisas mais preocupantes para nós é que quando você lança algo, ela pode falhar”, apontou, trazendo detalhes sobre os “lençóis criogênicos que protegem a parte traseira do equipamento do sol”.

Em seguida, a engenheira norte-americana apresentou algumas das já célebres imagens captadas pelo telescópio, ratificando o impacto da qualidade do material proporcionado pelo  James Webb. “Esse pequeno ponto é uma galáxia. Isso nos faz sentir pequenos. Provavelmente, há milhares de galáxias nessa imagem. É muito provável que deva haver planetas como o nosso, eu acredito em alienígenas”, reforçou, apresentando elementos da astrofísica que constitui as estrelas. “Olhem os planetas. Nunca os vi de forma tão linda. Urânio tem anéis. James Webb nos dá nova clareza para olhar planetas”.

Eventos
A cientista da Nasa apontou cinco próximos passos para os apreciadores do espaço e as novidades da Engenharia Espacial:
•    Em 24 de setembro, retorna à Terra a missão espacial  Osiries-REx. “Vamos ter amostras de um asteroide aqui na Terra”;
•    Em 14 de outubro, vamos ter um eclipse solar e em 8 de abril também.

•    Em 9 de janeiro de 2024, será lançado o projeto Pace-Oci Launch, voltado ao estudo de plânctons;
•    Em maio de 2027, o telescópio Roman Space deverá ser lançado, buscando melhorar o alcance visual por meio de espectros mais baixos que o ultravioleta.

Além dessas, a missão mais aguardada é a Artemis 2, que deverá levar astronautas para a lua no próximo ano. “Essas foram algumas possibilidades com que trabalhei para ajudar os engenheiros para usar para comunicação em laser, sistemas criogênicos para reabastecimento na lua, micro-ondas e medidas com radar”, disse, ressaltando que pela primeira vez uma mulher e uma pessoa da raça negra irão à lua.

Envolvimento sem fronteiras
“Acredito que não estamos sozinhos. Podemos ter pessoas no Brasil que possam nos ajudar a descobrir isso. Precisamos da família, comunidade, academia e da indústria trabalhando juntos para nos ajudar nisso. A Star Trek tinha pessoas de todo mundo”, comentou. “Você precisa incluir todos para viajar ao espaço.  No espaço, não vamos fronteiras. Acredito em promover mudanças, e temos que envolver as mulheres” disse, apresentando o Congresso de Engenheiras Africanas e outras experiências ao redor do mundo.

“Toda vez que trabalho com crianças, eles me ensinam algo novo”, disse, apresentando alunos de todo o país que participaram do curso de verão conduzido por ela este ano.

“Sejam os campeões da mudança, brasileiros”, disse, apresentando casos como Carlos Menck, da Universidade de São Paulo, entre outros engenheiros e engenheiros agrônomos. “Inovação, persistência, riscos controlados”, destacou.

Após sua apresentação, a engenheira aeroespacial recebeu no palco uma homenagem de sua “nova amiga”, a presidente do Crea-RS, eng. amb. Nanci Walter. Ela esteve acompanhada de duas estudantes: Caroline Schwantes, do curso de Engenharia Aeroespacial da Universidade Federal de Santa Maria, e Isabélle Marques, estudante de nível técnico em Mecânica da Escola Estadual Frei Plácito, em Bagé (RS). A experiência demonstrou a importância de buscar ampliar os limites da convivência humana, o que havia sido vivenciado por Aprille em visitas realizadas a escolas de Gramado, onde a engenheira também promoveu trabalhos sociais. Na última terça-feira (8/8), a engenheira havia realizado um bate-papo com os estudantes das Escolas Vicente Casa Grande (6º ano), Presidente Vargas (8º ano), Padre Scholl (1º ao 5º ano), Pedro Zucolotto (9º ano) e Padre Anchieta (5º ano) no Space Adventure Nasa, parque com produtos licenciados da Nasa, em Canela.

Fonte: Notícias Confea